O Projeto Coral Vivo, patrocinado pela Petrobras, realizou, entre os dias 6 e 9 de fevereiro, a formação Reef Check Brasil com seis voluntárias de comunidades tradicionais do Sul da Bahia, entre elas cinco indígenas da etnia Pataxó, que terão seu primeiro contato com o fundo do mar. Realizado em 102 países, o Reef Check – que no Brasil tem o Coral Vivo como parceiro da Universidade Federal de Pernambuco nas ações do Programa Nacional de Monitoramento dos Recifes de Coral, como no Parque Natural Municipal Marinho Recife de Fora – realiza treinamentos com aulas práticas e teóricas sobre conservação marinha e monitoramento da saúde dos recifes de coral.
O treinamento da turma formada por mulheres, com idade entre 13 e 29 anos, moradoras da Aldeia Velha, em Arraial d’Ajuda, e da Aldeia Mãe Barra Velha e da comunidade de Curuípe, na Reserva Extrativista Marinha do Corumbau, teve como objetivo promover conhecimento científico, incentivando o engajamento feminino na conservação dos recifes de coral, já que a maioria dos grupos de monitoramento que atuam no litoral sul da Bahia é formada por homens.
A ideia é que os conhecimentos adquiridos sejam multiplicados dentro das comunidades para ajudar na gestão do uso sustentável dos recursos naturais. Além disso, as voluntárias poderão atuar em áreas de mergulho livre podendo ter um papel de sentinela no registro de prováveis eventos, como o branqueamento dos corais, provocado pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas.
O Protocolo Reef Check pode ser utilizado para formar times locais para realizarem monitoramentos da saúde dos corais, peixes e outros invertebrados marinhos da região. A ação é o primeiro passo para inserir as voluntárias no contexto da ciência cidadã, que consiste na parceria entre cientistas e amadores para coleta de dados para a geração de conhecimento, através de metodologias participativas, ampliando assim a participação da população na gestão ambiental.
Segundo o pedagogo Fábio Negrão, coordenador de Sensibilização do Projeto Coral Vivo, a iniciativa promove a gestão do uso sustentável dos recifes de forma ampla. “Queremos sensibilizar as mulheres dessas comunidades indígenas para que elas possam multiplicar o conhecimento da ciência cidadã. Nosso objetivo é estimular o olhar crítico da comunidade em relação às questões ambientais, promovendo a gestão do uso sustentável dos recifes de forma ampla”, explica.
Segundo Negrão, o conhecimento poderá ser aplicado também no dia a dia de cada voluntária. “Elas poderão se engajar observando, por exemplo, a qualidade de lixo na praia e no mar, fundamental para entendermos a origem dos resíduos para atuar direto na fonte dos problemas. A observação de mudanças na largura dos rios e praias, volumes de chuvas e problemas como a baixa salinidade nas águas do mar, que pode estar relacionada à mortalidade de algumas espécies, assim como injúrias como quebra de recifes por eventos climáticos ou pelo uso público inadequado dos recifes por diferentes pessoas (danos por âncoras e remos, alimentação indevida das espécies por visitantes”, exemplifica Negrão, que há duas décadas é engajado na campanha ‘Conduta Consciente em Ambientes Recifais’, do Ministério do Meio Ambiente.
“Acredito no processo formativo de condutores de visitantes em Áreas Marinhas Protegidas. Considero necessário informar aos usuários de áreas naturais com recifes de coral, de forma sensível e objetiva, a importância dos recifes e da manutenção do estado original destas áreas, além de incentivar práticas com menor impacto durante as atividades recreativas no ambiente.”
As aulas da formação Reef Check foram ministradas por Fábio Negrão, Carlos Henrique Lacerda, Coordenador Regional de Pesquisa do Coral Vivo, Kely Salvi e Edimilson Conceição, da equipe do Projeto Coral Vivo, e também pela oceanógrafa Camila Brasil, professora da Universidade Federal da Bahia. A etapa prática também contou com a participação de monitores do Coral Vivo, que atuaram como facilitadores do curso, na logística de insumos e transporte para as aulas, além do apoio nas aulas práticas de piscina, atuando como dupla de mergulho das alunas. As aulas teóricas apresentaram às alunas as espécies locais, como esponjas, algas, corais e peixes, por meio de materiais informativos. Já na parte prática do curso, foi realizado um mergulho em uma piscina com correnteza em formato de rio, com 426 metros de extensão, dentro do Eco Parque Arraial d’Ajuda. E, no último dia, as alunas puderam observar as espécies “ao vivo”, em um mergulho com cilindro (batismo) no Parque Natural Municipal Marinho do Recife de Fora, em Arraial D’Ajuda.
Sobre o Coral Vivo
Patrocinado pela Petrobras desde 2006, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o Projeto Coral Vivo trabalha com pesquisa, educação, políticas públicas, comunicação e sensibilização para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos ambientes recifais e coralíneos do Brasil. Concebido no Museu Nacional/UFRJ, hoje é realizado por 13 universidades e institutos de pesquisa. Está vinculado ao Instituto Coral Vivo, que já foi coordenador executivo do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais), e segue apoiando a iniciativa.
Além disso, o Coral Vivo integra a Rede BIOMAR, junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Meros do Brasil. Patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, eles atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil. As ações do Projeto Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque.
O Coral Vivo faz parte também da Rede de Conservação das Águas da Guanabara e Entorno (REDAGUA), que reúne, igualmente, todos projetos apoiados pela Petrobras. A rede tem como objetivo promover a conservação da biodiversidade, prestação de serviços ecossistêmicos, restauração ambiental, pesquisa, educação ambiental, inclusão social e comunicação na região da Baía de Guanabara e entorno, sendo constituída pelos Projetos Coral Vivo, Guapiaçu, Meros do Brasil e Uçá.
Sobre a Campanha de Conduta Consciente
Iniciativa da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (SBF/MMA), surgiu em 2001 e tem como objetivo contribuir para a conservação dos corais. Em 2010, a Campanha foi estendida ao ambiente praial, com o foco na importância da conservação dos ecossistemas costeiros. Em 2016 a Campanha integra a lista de ações e fortalece os objetivos do PAN Corais e em 2018 recebe o apoio do Projeto TerraMar (MMA/GIZ). Desde então, a Campanha Conduta Consciente foi atualizada com novas temáticas, novo visual e linguagem mais simples, na intenção de abranger um maior público.
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