Um estudo publicado recentemente pela Rede de Pesquisas do Coral Vivo na revista Marine Biology, importante periódico científico internacional, investigou a reprodução das principais espécies construtoras dos recifes do Atlântico Sul. Nessa pesquisa foram observados fenômenos sem precedentes na literatura: as espécies Mussismilia hispida (coral-cérebro) e Mussismilia harttii (coral-couve-flor) foram capazes de desovar mesmo estando completamente branqueadas.
O aumento da temperatura da superfície do oceano é a principal causa do branqueamento dos corais, caracterizado pelo rompimento da “parceria” entre os corais e as microalgas que vivem no seu tecido e lhe fornecem energia. As ondas de calor, cada vez mais frequentes no oceano, têm levado muitos corais à morte e contribuído para uma redução drástica dos ambientes coralíneos em vários lugares do planeta.
O sucesso reprodutivo dos corais pode ser prejudicado por muitos fatores de estresse, incluindo o branqueamento. “A perda de sincronia de desova já foi relatada como consequência do aumento de temperatura a longo prazo, além de efeitos negativos graves prejudicando a formação de espermatozoides e óvulos, reduzindo o tamanho dos ovos, a fecundidade e até impedindo a desova”, explica Miguel Mies, coordenador de Pesquisas do Projeto Coral Vivo e um dos autores do estudo. Entretanto, as espécies estudadas, coletadas no Parque Municipal Marinho do Recife de Fora (BA), em 2019, e levadas à base de pesquisa do Projeto Coral Vivo, foram capazes de desovar gametas viáveis, mesmo estando completamente branqueadas.
“O evento de branqueamento registrado naquele ano foi tão intenso que, mesmo após oito meses, muitas colônias ainda estavam branqueadas. A gametogênese, especialmente a formação dos ovos, demanda muita energia, portanto, a disponibilidade de alimentos desempenha um papel central antes e durante esse processo. Após um intenso evento de branqueamento, com baixo ou quase nenhum fornecimento de energia via autotrofia, seria esperado que a reprodução não ocorresse. Porém, as espécies estudadas se alimentam intensamente de forma heterotrófica, e parecem usar este modo de alimentação como um mecanismo de compensação pela diminuição da autotrofia. Esta plasticidade trófica deve ter sido crucial para sustentar a reprodução das duas espécies durante este particular evento de branqueamento”, explica Leandro Godoy, pesquisador da Rede e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
As descobertas reforçam a teoria de que os corais do Atlântico Sul são particularmente resistentes às mudanças climáticas e fornecem novos insights sobre a reprodução e ecologia de recifes de coral durante eventos de estresse térmico.
Para saber mais sobre o branqueamento e a resiliência dos recifes de coral da costa brasileira, leia, aqui, matéria publicada no site do Coral Vivo.
Redação Projeto Coral Vivo
Fotos: Leandro Santos / Coral Vivo