Grau leve de branqueamento na costa representa trégua para corais em ano de La Niña


17/12/2021


Um respiro para os recifes de coral em 2021: esse foi o resultado de uma avaliação feita por pesquisadores do Coral Vivo acerca do grau de branqueamento de corais nas costas Sudeste (RJ e SP) e Nordeste (BA e PE) do país.
 
O aquecimento global vêm se intensificando e produzindo episódios de branqueamento mais acentuados, frequentes e duradouros. Por conta disso, os episódios de mortalidade coralínea no Brasil têm aumentado. Em 2019, por exemplo, o Brasil sofreu seu maior episódio de branqueamento de todos os tempos, e previsões da National Oceanic and Atmospheric Administration relatam que ao menos um episódio de branqueamento severo deverá ocorrer entre 2021 e 2023.
 
Monitorar o branqueamento em recifes dos Estados da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo nestes três anos é um dos compromissos assumidos pelo Coral Vivo. Para ilustrar os resultados das investigações, mapas de incidência de branqueamento para cada Estado estão sendo produzidos (ver mapas ao final da notícia).
 
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A obtenção dos dados ocorreu através de mergulhos autônomos: foram feitas três réplicas por ponto/recife de transecto fixo de 20m, havendo uma distância mínima de 100m entre elas. Os recifes estudados estão entre 3m e 7m de profundidade.
 
O branqueamento das áreas selecionadas é monitorado ao longo do ano. Até o momento, duas campanhas de avaliação já foram realizadas em cada Estado. Como resultado, o índice de colônias branqueadas se manteve abaixo de 10% para todos os locais e momentos de avaliação. No Recife de Fora (Bahia), a incidência de branqueamento era de 7,3%, e passou para 6,8% na segunda janela de monitoramento. Em Porto de Galinhas (PE), passou de 9,8 para 6,9%; em Búzios (RJ), de 5,4 para 2,9%; e, Ubatuba (SP), de 5,0 para 7,1%.
 
Esses são níveis de branqueamento baixos e tipicamente encontrados em épocas não associadas com ondas de calor, como foi o caso de 2021. Em Porto de Galinhas, os números são um pouco mais altos, provavelmente, em função do maior grau de impacto antropogênico. Vale ressaltar que mais de 90% das colônias branqueadas foram classificadas como E3 no Coral Health Chart – uma metodologia de baixo custo e não invasiva em que é feita a comparação visual entre a coloração dos corais e as categorias presentes na tabela, que indicam a densidade de zooxantelas e do conteúdo de clorofila nos tecidos dos corais –, o que caracteriza um grau leve de branqueamento.
 
“O branqueamento ficou em torno de 6% a 7% em todos os pontos estudados, indicando um grau leve e normal de ser encontrado na natureza – associado, por exemplo, a algum impacto, como a poluição ou outra interferência humana no ambiente. Isto é, não haviam colônias severamente branqueadas. Em anos que enfrentam fortes ondas de calor, é possível verificar incidência de branqueamento superior a 50%, quando os corais ficam da cor do papel”, explica Miguel Mies, coordenador de Pesquisas do Projeto Coral Vivo e líder desta ação. “Esse branqueamento é compatível com todas as épocas não associadas a ondas de calor, como foi o caso de 2021. Vale lembrar que este foi um ano de La Niña, a fase fria do El Niño, que não provoca aumento nas temperaturas”, complementa Miguel.
 
Fotos (acima e capa): Exemplares de corais branqueados fotografados por Áthila Bertoncini no ano de 2016
 
Confira abaixo os mapas gerados a partir dos dados coletados neste monitoramento.
 

    

    

    

    

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