Equipe de pesquisadores descobre novos recifes de coral no misterioso Banco Royal Charlotte, na costa da Bahia, local com 100 km de extensão que ainda é uma incógnita para a Ciência
O Projeto Coral Vivo realizou, entre abril e maio deste ano, a segunda expedição ao misterioso e inexplorado Banco Royal Charlotte para mapear do ponto de vista geofísico e biológico esse local que ainda é uma incógnita para a Ciência. O que se descobriu foi uma enorme plataforma que abriga um riquíssimo ambiente coralíneo que se assemelha em diversidade a Abrolhos, mas que pode abrigar ainda mais espécies.
“Nossa equipe encontrou um impressionante canal submarino, com paredes verticais de cerca de 30 metros de altura, com até 90% de cobertura de corais e grande quantidade de peixes. Diferente de tudo o que se conhece na plataforma continental do Atlântico Sul! É uma área de rica biodiversidade, com evidências de conectividade e potencial de auxiliar no repovoamento de áreas litorâneas”, revela o Dr. Ronaldo Francini Filho, pesquisador associado do Projeto Coral Vivo e professor do CEBIMAR, da USP.
Localizado na costa da Bahia, 100 km ao norte de Abrolhos, O Banco Royal Charlotte tem aproximadamente 100km de extensão, uma profundidade que varia entre 30m e 3.000m e abriga rica biodiversidade marinha. Pelas atividades de pesca esportiva e comercial sabe-se que ali ocorrem, por exemplo, grandes peixes, como atuns e marlins. Jubartes e golfinhos também utilizam a área. O Royal Charlotte faz parte do Plano de Ação Nacional para Conservação de Ambientes Coralíneos, o PAN Corais, que contempla 52 espécies ameaçadas de extinção e tem objetivo geral de melhorar o estado de conservação dos ambientes coralíneos por meio da redução dos impactos antrópicos, ampliação da proteção e do conhecimento, com a promoção do uso sustentável e da justiça socioambiental.
Na primeira exploração, há dois anos, o Projeto Coral Vivo descobriu no Banco Royal Charlotte a presença de diferentes ecossistemas: bancos de rodolitos (algas calcárias), recifes de coral, florestas de macroalgas e planícies calcárias. Também foram encontrados indicadores de uma biodiversidade elevada, com espécies ameaçadas e endêmicas do Brasil. Os primeiros resultados indicaram que a região pode ser uma versão menor de Abrolhos, banco que abriga a maior biodiversidade marinha do Atlântico Sul. A pesquisa trouxe também um alerta sobre a conservação do Banco Royal Charlotte, que já apresenta sinais do impacto do aquecimento global. Foram observados corais com grau máximo de branqueamento, consequência da alta temperatura do oceano.
A Expedição Coral Vivo Royal Charlotte 2022 foi realizada em duas etapas, começando com o mapeamento geofísico do local, com equipamentos que fornecem informações sobre a composição da plataforma, profundidades, relevos e rugosidade da região, tudo em 3D. Dessa forma, houve a identificação de recifes fundos (até 60-80m), e outras estruturas como canais e lajes. Em uma segunda etapa, foi realizada uma exploração biológica, com a documentação e avaliação da fauna em vários pontos diferentes do Royal Charlotte.
Essa ação do Projeto Coral Vivo, liderada pelo Prof. Dr. Paulo Sumida, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), e pretende, além de conhecer e documentar a região inexplorada, identificar o impacto humano sobre ela e traçar planos de conservação. A expedição contou com equipamentos da USP, como sonar multifeixe, ROV (veículo submarino operado remotamente), que opera em maiores profundidades, e outros. Pesquisadores e mergulhadores profissionais fizeram mergulhos de até cerca de 60m, contando com equipamentos de segurança, utilizando gás de fundo com trimix (nitrogênio, oxigênio e hélio), além de nitrox 50 e oxigênio nas paradas descompressivas. O mergulho técnico é uma importante ferramenta de trabalho nessa inesquecível jornada! Os mergulhadores utilizaram também o “rebreather”, um equipamento que não solta bolhas e faz a reciclagem do gás respirado, aumentando a autonomia e o tempo de mergulho.
Todo o material biológico coletado na expedição irá se juntar ao já precioso e extraordinário acervo do Museu Nacional / UFRJ (as coleções científicas de invertebrados e peixes recifais brasileiros, em parte resultado de esforços de pesquisadores associados ao Coral Vivo, não foram afetadas pelo incêndio de 2018).
SOBRE O PROJETO CORAL VIVO: O Projeto Coral Vivo é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental desde 2006 e trabalha com pesquisa, educação, políticas públicas, comunicação e sensibilização para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos ambientes recifais e coralíneos do Brasil. Concebido no Museu Nacional/UFRJ, hoje é realizado por 14 universidades e institutos de pesquisa. Está vinculado ao Instituto Coral Vivo, que já foi coordenador executivo do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais) e segue apoiando a iniciativa.
Além disso, o Coral Vivo integra a Rede BIOMAR, junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Meros do Brasil. Também patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, eles atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil. As ações do Projeto Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque.
O Coral Vivo também faz parte da Rede de Conservação das Águas da Guanabara e Entorno (REDAGUA), que reúne, igualmente, projetos patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. A rede tem como objetivo promover a conservação da biodiversidade, prestação de serviços ecossistêmicos, restauração ambiental, pesquisa, educação ambiental, inclusão social e comunicação na região da Baía de Guanabara e entorno, sendo constituída pelos Projetos Coral Vivo, Guapiaçu, Meros do Brasil e UÇÁ.
Saiba mais sobre a expedição Royal Charlotte nos links abaixo:
https://www.instagram.com/tv/CfhUcAKgqb2/?igshid=YmMyMTA2M2Y%3D