Estudo propõe diretrizes para evitar que ações de restauração de corais agravem crise ambiental na costa brasileira


06/05/2025



Foto: Athila Bertoncini – Projeto Coral Vivo[/caption]
 
Sem critérios específicos, ações bem-intencionadas podem comprometer ainda mais a resiliência dos recifes de coral no Atlântico Sul.
 
Pesquisadores brasileiros lançam alerta sobre a urgência de estabelecer diretrizes próprias para a restauração de recifes de coral na costa brasileira. Um estudo realizado pela coordenação do Projeto Coral Vivo, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, propõe um conjunto de recomendações éticas e científicas para orientar práticas de restauração de corais no Atlântico Sul, uma região marcada por alta taxa de endemismo e baixa diversidade biológica.
 
A restauração de corais, baseada em técnicas como transplante e fragmentação, tem ganhado destaque em escala global, especialmente após o lançamento da Década das Nações Unidas para a Restauração de Ecossistemas (2021-2030). No entanto, os pesquisadores alertam que métodos amplamente utilizados em outras regiões do mundo, como o Caribe e o Pacífico, podem ser inadequados para os recifes singulares do Atlântico Sul. A adoção indiscriminada dessas técnicas, sem a devida adaptação ao contexto local, pode gerar impactos negativos e comprometer ainda mais a saúde dos recifes brasileiros.
 
Diante desse cenário, o estudo propõe diretrizes específicas para garantir que as iniciativas de restauração contribuam efetivamente para a conservação. Entre as recomendações, estão:
 
• A exigência do domínio técnico adequado para a fragmentação e transplante de corais, respeitando as características e necessidades de cada espécie;
• A obrigatoriedade de embasar todos os projetos em evidências científicas sólidas, evitando o uso de técnicas experimentais sem validação;
• A seleção de espécies-alvo e sítios-alvo baseada em critérios ecológicos de prioridade e adequabilidade;
• A precaução quanto à combinação de múltiplas técnicas intervencionistas sem avaliações prévias, para não gerar estresse adicional aos organismos;
• A transparência total nos resultados — positivos e negativos — com divulgação pública das informações para evitar práticas ineficazes;
• A regulamentação e o monitoramento rigorosos por parte dos órgãos ambientais, assegurando que os objetivos de conservação estejam acima de interesses comerciais ou promocionais.
 
Segundo o estudo, embora a eficácia da restauração na recuperação de recifes degradados ainda não tenha sido comprovada, seguir as diretrizes éticas e ecológicas propostas pode ajudar a sustentar espécies ameaçadas e serviços ecossistêmicos em áreas degradadas até que as políticas de enfrentamento das mudanças climáticas entrem em vigor.
 
O alerta é urgente! Estima-se que boa parte da cobertura coralínea do Atlântico Sul já foi perdida nas últimas quatro décadas. Com o contínuo aquecimento do oceano — que pode ultrapassar 2ºC nas próximas décadas — somado à degradação ambiental acelerada, os recifes de coral, que sustentam mais de 30% de toda a vida marinha do planeta, estão sob risco severo de colapso. Essa perda afeta diretamente serviços ecossistêmicos essenciais, como proteção costeira, pesca e turismo.
 
A costa brasileira abriga recifes únicos, dominados por espécies de crescimento lento e alto endemismo, como os corais do gênero Mussismilia, que não existem em nenhuma outra parte do mundo. Essa singularidade reforça a urgência de sua conservação. Estima-se que cerca de 500 milhões de pessoas no mundo dependam direta ou indiretamente dos recifes de coral para seu sustento, e que recifes bem preservados podem proteger até 197 milhões de habitantes de zonas costeiras contra furacões e tempestades, diminuindo em até 97% a energia das ondas.
 
O estudo é um chamado à responsabilidade. Em tempos de crise climática e colapso ambiental iminente, a restauração de corais precisa ser feita com ciência, ética e compromisso com o futuro do oceano — e de todos que dele dependem.
 

SOBRE O PROJETO CORAL VIVO
 
Patrocinado pela Petrobras desde 2006, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o Projeto Coral Vivo trabalha com pesquisa, educação, políticas públicas, comunicação e sensibilização para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos ambientes recifais e coralíneos do Brasil. Concebido no Museu Nacional/UFRJ, é realizado pelo Instituto Coral Vivo em parceria com 15 universidades e institutos de pesquisa.
 
As ações do Projeto Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque. O Projeto Coral Vivo integra a Rede BIOMAR, junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Meros do Brasil. Patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, eles atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil. O Coral Vivo faz parte também da Rede de Conservação das Águas da Guanabara e Entorno (REDAGUA), que reúne, igualmente, todos projetos apoiados pela Petrobras. A Rede tem como objetivo promover a conservação da biodiversidade, prestação de serviços ecossistêmicos, restauração ambiental, pesquisa, educação ambiental, inclusão social e comunicação na região da Baía de Guanabara e entorno, sendo constituída pelos Projetos Coral Vivo, Guapiaçu, Meros do Brasil e Uçá.

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