O Carnaval não é apenas um momento de festa para os foliões – no oceano, essa época também marca um espetáculo natural surpreendente: a desova do coral-cérebro-da-Bahia (Mussismilia braziliensis), um coral que ocorre exclusivamente no sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Durante a lua nova deste período, os corais dessa espécie liberam seus gametas no mar em um evento sincronizado, essencial para a renovação e resiliência dos recifes brasileiros.
A reprodução sexuada dos corais é um dos principais mecanismos que garantem a sobrevivência desses ecossistemas marinhos ao longo do tempo. Diferente da reprodução assexuada, que gera cópias idênticas dos corais, a fecundação de gametas permite maior diversidade genética, aumentando a capacidade dos recifes de se adaptarem às mudanças ambientais e resistirem a impactos como o aquecimento dos oceanos e a poluição.
No Brasil, a reprodução dos corais ainda é um fenômeno pouco estudado. O Projeto Coral Vivo, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, é a primeira e única iniciativa no país que monitora desovas de várias espécies. Essas observações são fundamentais para ampliar nosso conhecimento sobre o ciclo de vida dos corais e criar estratégias mais eficazes de conservação e regeneração.
A Sincronia da Vida Marinha
Um dos aspectos mais fascinantes da desova dos corais é sua sincronia com os ciclos lunares. Há muitos anos, os pesquisadores do Coral Vivo descobriram que todos os corais dessa espécie, e também de outras espécies próximas, desovam no mesmo período, independentemente de onde estejam, guiados pela lua nova. Além disso, a liberação dos gametas acontece após o pôr do sol e durante a maré baixa, uma estratégia inteligente para evitar que predadores enxerguem e consumam os gametas e também para que as células reprodutivas masculinas e femininas se encontrem na coluna d’água com mais facilidade.
Uma vez na água, os gametas se unem e formam embriões que ficam à deriva. Em seguida, transformam-se em larvas que nadam em busca de um substrato adequado para se fixar e iniciar o longo desenvolvimento de uma nova colônia de coral. Esse breve deslocamento é a única fase da vida em que um coral se move – depois disso, ele permanecerá fixo ao longo de sua existência, contribuindo para a formação e crescimento dos recifes.
Reprodução Assistida e a Cultura Oceânica
Além do monitoramento no ambiente natural, o Projeto Coral Vivo realiza um programa de reprodução assistida de corais sob cuidados humanos. Durante a desova, colônias matrizes são coletadas no mar e levadas para a Base de Pesquisa e Visitação, onde os gametas são utilizados para fertilização in vitro. Esse método, já consolidado há duas décadas, gera uma grande quantidade de larvas de coral, que depoisse fixam em substratos adequados, sofrem metamorfose e se tornam pólipos fundadores, que são reintroduzidos nos recifes. As colônias matrizes são então devolvidas a ambiente marinho e fixadas nos recifes com toda a segurança, garantindo a continuidade de seu ciclo natural.
Essa iniciativa é totalmente alinhada aos objetivos da Década da Restauração de Ecossistemas (2021-2030), promovida pela ONU, que busca mobilizar esforços globais para restaurar ecossistemas degradados e conservar a biodiversidade. No contexto da Cultura Oceânica, que visa aproximar a sociedade do conhecimento sobre o oceano e seus impactos na vida humana, a reprodução dos corais nos ajuda a compreender como proteger melhor esses organismos essenciais para a manutenção da biodiversidade e consequente saúde marinha.
A conservação dos recifes de coral depende diretamente do entendimento e da valorização desses processos naturais. Assim, enquanto muitos se preparam para a folia, o Projeto Coral Vivo já está na linha de frente, celebrando o Carnaval do oceano e garantindo a continuidade da vida nos recifes brasileiros.
📢 Importante: As coletas biológicas realizadas pelo Coral Vivo são todas autorizadas pelos órgãos ambientais, pois fazem parte de pesquisas científicas. Coletar corais sem autorização é crime ambiental e prejudica gravemente os ecossistemas marinhos.
SOBRE O PROJETO CORAL VIVO
Patrocinado pela Petrobras desde 2006, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o Projeto Coral Vivo trabalha com pesquisa, educação, políticas públicas, comunicação e sensibilização para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos ambientes recifais e coralíneos do Brasil. Concebido no Museu Nacional/UFRJ, é realizado pelo Instituto Coral Vivo em parceria com 15 universidades e institutos de pesquisa.
As ações do Projeto Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio do Arraial d’Ajuda Eco Parque.
O Projeto Coral Vivo integra a Rede BIOMAR, junto com os projetos Albatroz, Baleia Jubarte, Golfinho Rotador e Meros do Brasil. Patrocinados pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, eles atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil. O Coral Vivo faz parte também da Rede de Conservação das Águas da Guanabara e Entorno (REDAGUA), que reúne, igualmente, todos projetos apoiados pela Petrobras. A Rede tem como objetivo promover a conservação da biodiversidade, prestação de serviços ecossistêmicos, restauração ambiental, pesquisa, educação ambiental, inclusão social e comunicação na região da Baía de Guanabara e entorno, sendo constituída pelos Projetos Coral Vivo, Guapiaçu, Meros do Brasil e Uçá.